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"SACANAMENTE DOU O PRIMEIRO PASSO NO CAMINHO DA VULGARIDADE E SAIO DA VIDA PARA ENTRAR NA ESCÓRIA!"
terça-feira, 29 de junho de 2010
GUIA DE TURISMO PARA BRASILEROS
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quinta-feira, 24 de junho de 2010
AS OBRAS-TIAS DO PAGODE FILOSÓFICO
PAGODÃO DO FIM DO MUNDO
Quero morrer... quero matar!
Ninguém vai me segurar!
Quero matar... quero morrer!
Ninguém pode me conter
Sou assassino, sanguinário, genocida
Eu sou daquela torcida
Para o mundo se acabar
Enquanto isso, palmas para o suicida
Que abrevia a sua vida
Que ia mesmo terminar
Quero morrer... quero matar!
Ninguém vai me segurar!
Quero matar... quero morrer!
Ninguém pode me conter
Só os ingênuos sonham em salvar o mundo
Mas esses mesmos, no fundo
Sabem que isso é uma ilusão
Que cada louco tenha a sua bomba atômica
Pra que essa tragédia cômica
Tenha a maior extensão
Quero morrer... quero matar!
Ninguém vai me segurar!
Quero matar... quero morrer!
Ninguém pode me conter
Adeus planeta, está chegando o teu fim
E, avaliando por mim,
Tu não vai deixar saudade
Sou niilista, do fundo do coração
Dou minha contribuição
À extinção da Humanidade!
Mauro Baladi
quarta-feira, 23 de junho de 2010
DISPENSATA
Mauro Baladi
Uma das coisas que separa o homem dos outros seres vivos é a sua capacidade de fabulação, de criação de mitos que recobrem (ou encobrem) uma realidade demasiado insossa ou demasiado cruel. A condição de existência desses mitos é a nossa imaginação, a nossa ignorância e uma certa falta de memória (afinal, criamos os deuses e nos esquecemos disso, passando a crer que eles é que nos criaram).
Um desses mitos é o da “crise das ciências do homem”, que aponta um flagrante descompasso entre as certezas intercambiáveis das ciências matemáticas e as dúvidas cumulativas das ciências “sociais”. A crença de que qualquer conhecimento que não possa ser mensurável e quantificável não é digno de confiança levou a deformações como o positivismo, tábua de salvação para uma filosofia que se viu transformada em uma forma de conhecimento subjetiva e metafísica ou para uma história que se viu reduzida a um gênero literário. Porém, se a dissecação de um cadáver humano não nos traz mais do que o conhecimento do homem “biológico”, se a redução de um corpo humano aos seus elementos químicos não nos oferece muito mais do que água e carbono, é porque existem – em nós – elementos que estão além de toda a objetividade científica. A matemática pode sempre nos garantir, para além do tempo e do espaço, que a soma de dois números pares resultará em outro número par; porém, nenhuma psicologia ou nenhuma genética conseguirá prever todas as ações e reações de qualquer ser humano em todas as circunstâncias. Mesmo a “certeza” e a “verdade objetiva” das ciências matemáticas não passa de um mito, já que os cientistas assumiram – em muitos aspectos – o papel antes reservado aos religiosos, como arautos de uma verdade que pretensamente “vem do alto” e independe da ação humana. O passado da ciência (sempre renegado à categoria de “história”) nos mostra como os erros mais torpes já desfrutaram desse estatuto de verdade. Basta sairmos da superfície para verificar que os próprios fundamentos da ciência estão nesta mesma “crise”, tanto no aspecto da sua evolução (entre a ciência que caminha passo a passo, de Pierre Duhem, e a ciência que dá saltos, de Thomas Kuhn), quanto nos aspectos éticos e morais. Mas a “crise”, ao menos nas ciências humanas, não é um problema que exige solução, e sim uma realidade – muito rica, mas também assustadora – com a qual é preciso conviver, já que os paradigmas não passam, para nós, de parênteses abertos em um devir que nunca se detém.
MÁXIMAS E PENSAMENTOS DE HONORÉ DE BALZAC
sexta-feira, 18 de junho de 2010
A CORAGEM DE SER FELIZ
Em A Potência de Existir, o filósofo francês Michel Onfray examina o hedonismo sob a perspectiva do encontro de um prazer responsável
Regina Schöpke
Onfray tem um projeto (ou uma proposta) de vida e pensamento, coisa que a filosofia atual já perdeu de vista há algum tempo - talvez por não conseguir suplantar o niilismo contemporâneo (já tão anunciado por Nietzsche). Niilismo este que nasceu com a derrocada dos valores supremos (no fim do século 19) e que nada mais é do que o crepúsculo de uma moral assentada na transcendência e na ideia de eternidade. De fato, o homem sente-se hoje existencialmente abandonado e desolado. Eis porque o niilismo (este nada de valores em que o homem mergulhou) pode ser entendido como a forma mais profunda de ressentimento contra a vida ou contra a falta de sentido dela. Mas é exatamente aí que Onfray segue a trilha de Nietzsche e procura resgatar o verdadeiro sentido da vida, ou o "sentido da Terra", como já dizia o próprio Nietzsche. E isto quer dizer resgatar a potência de viver, de sentir, de amar, de ser e de estar inteiro. No fundo, o que o homem ainda não entendeu é que foi a metafísica que nos fez viver de mentira (e das mentiras que ela criou), e que está na hora de produzirmos uma vida real. Não existe outra maneira de enfrentar e vencer o niilismo a não ser devolvendo ao corpo a sua potência de existir, isto é, libertando-o de uma moral que retirou dele a possibilidade das alegrias e dos prazeres reais.
Aliás, o título do novo livro de Onfray é exatamente A Potência de Existir. E, como diz seu subtítulo, trata-se de um "manifesto hedonista". É verdade que a ideia da "potência de existir", associada à alegria e ao fortalecimento de nosso poder de ação no mundo, não é de Onfray, mas de Espinosa, e também de Nietzsche - que pensam a alegria como a força maior, como o sentimento que aumenta a nossa potência de vida. Mas Onfray se une a eles e, sobretudo, a Epicuro, defendendo um hedonismo que não tem nada de vulgar e menos ainda pode ser confundido com uma busca desenfreada de prazeres fúteis e passageiros. Ao contrário, o filósofo francês tem verdadeiro horror deste falso hedonismo que busca no consumo a chave para a felicidade. Seu hedonismo se resume num ponto decisivo: buscar o máximo de alegrias, de felicidade, sem fazer mal a ninguém (ou a si mesmo). Este é o princípio básico de sua ética. Seria essa a única maneira de vencer a tristeza e o sofrimento disseminados por uma metafísica e uma religião que levam o homem a entender esta vida e seu próprio corpo como coisas menores e sem valor.
No prefácio do livro, no qual Onfray narra um dos momentos mais dramáticos de sua vida (sua internação, aos 10 anos de idade, em um orfanato salesiano), vemos a imagem de um menino que, mesmo esmagado pelo peso da fatalidade e da brutalidade, decide reagir e ser feliz. Ele se transfigura, ou seja, consegue transmutar a dor e o sofrimento em prazer e alegria (ou na busca deles). Este foi o seu antídoto para não se tornar amargo e para não passar por esta vida sem viver de verdade. É por isso que ele afirma que a "potência de existir" é uma espécie de arte codificada que "cura as dores passadas, presentes e por vir".
Não há dúvida de que a perda de certas crenças fez o homem mergulhar num vazio existencial profundo. Mas a questão é que este vazio é tão metafísico quanto as ideias perfeitas e modelares de Platão. Ele é apenas o reverso de uma mesma moeda. É como diz Nietzsche: quando se mata o mundo superior, transcendente, fica-se com o mundo aparente, o mundo de simulacros, dos falsos objetos e sentidos. No entanto, o erro reside exatamente aí: não existe um mundo aparente e outro verdadeiro; só existe um mundo, e é o nosso. E, se quisermos fazer valer esta vida de verdade, precisamos afirmá-la de um modo drástico e profundo. De certa maneira, a resposta de Onfray para a dureza da vida é exatamente aliviar o peso da existência. Trata-se de um reencontro potencializador consigo mesmo e com a própria vida. "Joga o que te pesa ao mar", já dizia Nietzsche, "joga-te ao mar..." Em poucas palavras: joga fora o que te mata e tenha a coragem de ser feliz.