terça-feira, 27 de março de 2012

GRANDES LIÇÕES DE JORNALISMO PRÁTICO

RIQUITO REI ENSINA

COMO SER CRÍTICO


O crítico de TV tem a sagrada missão de comparar os números do IBOPE e fazer algumas fofocas de bastidores, pagando favores, promovendo seus amigos e detonando seus desafetos. O bom crítico de TV sempre lamenta a falta de qualidade da televisão brasileira, mas despreza sutilmente qualquer programa - mesmo de excelente qualidade - que não dê audiência. O bom crítico de TV nunca hesita em publicar boatos sem fundamento, pois sabe que a polêmica pode gerar mais notícias e aumentar a sua própria audiência.

O crítico de cinema deve sempre analisar todos os filmes a partir de um modelo que só existe dentro da sua cabeça, e que ele próprio – como muitos exemplos têm demonstrado – jamais conseguiria transformar em imagens em movimento. O bom crítico elogia os seus amigos, detona os seus desafetos e sempre compara todos os filmes e cineastas que ele critica com os seus preferidos, que mudam de acordo com a moda. O bom crítico de cinema deve sempre apadrinhar alguns cineastas completamente desconhecidos do seu próprio país e de outros países bem exóticos, a fim de demonstrar o seu amplo conhecimento da sétima arte e exercitar o seu poder de influenciar os leitores. Também é importante não se esquecer de que a credibilidade de um crítico de cinema está diretamente ligada à sua capacidade de dar a impressão de que já viu "quase" tudo o que o cinema universal produziu nos últimos 120 anos, mesmo quando tem 18 anos incompletos e está se preparando para o vestibular do curso de cinema.

O crítico de arte deve sempre procurar encontrar, nas obras que analisa, algumas grandes virtudes e influências que os próprios autores dessas obras jamais supuseram existir. Desta forma, o crítico pode demonstrar que não só está acima do público, mas que também é superior ao próprio artista, já que é o responsável por dar algum sentido à sua criação. O bom crítico de arte jamais deve ter qualquer ligação com a atividade artística concreta, a fim de não correr o risco de ser ridicularizado pelos seus eventuais desafetos. O bom crítico de arte deve estar sempre preocupado em revelar novos talentos, a fim de demonstrar o seu poder demiúrgico e de aumentar a sua corte de bajuladores.