sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A INFÂNCIA DE CIRO GOMES


Ciro Gomes nasceu no interior de São Paulo, em Botucatuba ou Piracicamonhangaba (ele não se lembra direito), e bem poderia ter sido o sucessor do grande Mazzaropi, o jeca de elite. Porém, seu pai - um homem preconceituoso e patriarcal, que se acreditava descendente de Ciro, o rei dos persas - odiava o povo nordestino e via, com horror, sua terra ser invadida por esses comedores de farinha e rapadura. Um dia, num acesso de fúria incontrolável, ele tomou a decisão que mudaria a vida do pequeno Ciro: "Já que esses paus-de-arara estão todos vindo para cá, vamos nos mudar lá para a terra deles, que deve estar às moscas". No dia seguinte, ainda mal refeitos do choque, Ciro e seus parentes embarcaram em um Rolls-Royce sem toca-fitas e sem ar-condicionado e rumaram para o Nordeste. Homem culto e refinado, o pai de Ciro sabia muito bem que precisava encontrar um lugar seguro, onde não precisasse disputar o poder com os velhos coronéis e com alguns cangaceiros que ainda sobreviviam nos governos da Bahia e do Maranhão. Assim, ele foi diretamente para Pernambuco, mas errou o caminho e foi parar no Ceará, embora só tenha percebido o engano cinco anos depois. Educado nos melhores colégios (que, evidentemente, ficavam na Europa), Ciro logo se tornou uma das figuras proeminentes da sociedade cearense, muito carente de celebridades desde a partida do escritor José de Alencar. Seguindo os sábios conselhos de seu pai, que tinha orgulho em dizer que "não tinha criado filhos para trabalhar", Ciro e seu irmão Tucídides (mais conhecido como Cid), entraram para a política, onde logo se tornaram imbatíveis (até porque, quem tentasse bater neles acabava sendo fuzilado por um bando de capangas). Lutando bravamente para satisfazer os sonhos de grandeza de seu pai, que pregava a restauração da antiga monarquia dos aquemênidas, Ciro engajou-se na luta pela presidência, sabendo que - no Brasil - o presidente é um verdadeiro potentado oriental. Em tempos recentes, inspirado no exemplo do presidente Lula, Ciro empreendeu o retorno para a sua terra natal, de onde pretendia ter uma visão mais panorâmica sobre os verdadeiros problemas do país. Hoje, o futuro de Ciro Gomes é uma estrada bem asfaltada e sinalizada, onde nosso herói transita sereno, iluminado pela sabedoria de seu grande mentor e pai espiritual adotivo: Roberto Mangabeira Unger, também conhecido como "o Xenofontes de Harvard".