quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SÁBIO CONSELHO


A ordem moral tem suas leis; elas são implacáveis e sempre se é punido por tê-las ignorado. Existe uma, sobretudo, à qual o próprio animal obedece sem discussão, e sempre. É aquela que nos ordena a fugir de quem quer que nos tenha prejudicado uma primeira vez, com ou sem intenção, voluntária ou involuntariamente. A criatura da qual recebemos dano ou desprazer nos será sempre funesta. Qualquer que seja a sua posição, em qualquer grau de afeição em que a tenhamos, é necessário romper com ela. Ela nos foi enviada pelo nosso mau gênio. Embora o sentimento cristão se oponha a essa conduta, a obediência a esta lei terrível é essencialmente social e conservadora. A filha de James II, que se sentou no trono de seu pai, deve ter-lhe causado mais de uma ferida antes da usurpação. Judas tinha, certamente, dado algum golpe mortífero em Jesus antes de trai-lo. Existe em nós uma visão interior, o olho da alma que pressente as catástrofes. A repugnância que sentimos por esse ser fatal é o resultado dessa previsão. Se a religião nos ordena superá-la, resta-nos a desconfiança, cuja voz deve ser incessantemente escutada.

(Honoré de Balzac)