sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

LULA, UM REI EXILADO DE SI MESMO


O caso do presidente Lula é semelhante ao que o historiador Ernst Kantorowicz aborda em seu livro clássico, Os dois corpos do rei. No absolutismo, os reis da França tinham dois estatutos jurídicos, um como soberanos e outro como cidadãos comuns. Como chefes de governo, eles eram senhores de boa parte do patrimônio público. Como cidadãos, tinham direito apenas às propriedades que herdavam ou que adquiriam com o seu próprio patrimônio (que não se confundia com o tesouro público). Enquanto encarnava o Estado, o rei era um deus-vivo que podia fazer quase tudo. Ao abdicar ou ser destronado, ele se tornava mais um aristocrata de segunda-linha. Acho que o problema maior é que o Lula cidadão está se mordendo de inveja do Lula rei divino, que está prestes a virar história (dentro do velho princípio do "rei morto, rei posto").