terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

MPB - MÚSICA POÉTICA BRASILEIRA

(Noel Rosa)

Eu vi num armazém de Cascadura
Seu Zé vendendo a mil e cem
Trezentos réis de rapadura.
Lá no Banco do Brasil
Depositou mais de três mil
Botando água no vinho do barril.
Seus lábios só se abriam pra falar
Das velhas contas a cobrar,
Dos que morreram sem pagar...
Eram dois lábios agressores,
Dois grandes cobradores
Dos seus devedores.

Os seus cabelos tinham a cor
Do burro quando foge
Do amansador.
Seus olhos eram circunflexos,
Perplexos e desconexos.
Mãos de usurário,
Braços de sicário,
Corpo de macaco, chimpanzé maduro.
Enfim, eu vi neste velhote
Um imortal pão-duro!