quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Regina Schöpke: livro do tempo Matéria em Movimento investiga filosofia na dança das horas


Estado de São Paulo, Quinta, 07 de Outubro de 2009

Francisco Quinteiro Pires

O homem pode fugir de tudo, até de si mesmo, menos do tempo. Segundo a filósofa Regina Schöpke, a noção do tempo tem a ver com a duração das coisas e não com uma percepção abstrata e isolada. "Para mim, o enigma se resolve com a compreensão da matéria, já que afirmo que o tempo não existe em si mesmo, dissociado dela", diz. O senso comum parece dizer que, junto com a alegria, algo bem concreto é diariamente roubado dos indivíduos: a vida. Cronos, deus do tempo na mitologia grega, gerava e devorava os próprios filhos. Querendo ou não, lembra a autora, o tempo da existência é trágico. Mas é ele também que permite saborear os prazeres deste mundo transitório. Regina afirma que é preciso religar o homem à vida, dentro da qual se enxerga como um expatriado.Em Matéria em Movimento (Martins Editora, 472 págs., 49,80), que será lançado na livraria Martins Fontes, às 18h30 de hoje, ela debate a compreensão histórica do tempo, um dos objetos mais fugidios da filosofia. Ela cita filósofos como Platão, Santo Agostinho, Espinosa, Kant e Bergson. Colaboradora do caderno Cultura, do Estado, Regina discute, sobretudo, as obras de Deleuze e Nietzsche, que trabalharam o conceito de eterno retorno.Ela pretende mostrar como, mesmo sendo tão essencial para a estrutura psicológica e a organização social dos indivíduos, o tempo pode ser pensado de modo diverso. Regina propõe a percepção do tempo como "matéria em movimento", conceito que é o eixo do seu livro. Tal afirmação conduz à conclusão de que a ideia de estabilidade é apenas uma ilusão, frágil disfarce condenado a cair por terra no primeiro contato com o mundo, "essa enorme força criadora e recriadora de si mesma".