domingo, 21 de fevereiro de 2010

RIQUITO REI - O RETORNO...


REICRÍTICAS


Estive recentemente no Canadá, visitando alguns parentes distantes que vivem nas florestas da Colúmbia Britânica, e posso dizer a vocês - meus leitores - que tive a maior decepção da minha vida (depois da de saber que o Rock Hudson era boiola, é claro!). Como muitos pequenos-burgueses, sempre sonhei em viver num país limpo e seguro, com pessoas sadias e educadas e autoridades honestas, competentes e cheias de senso cívico. Porém, meus sonhos logo se desfizeram ao perceber que esse lugar é o recanto mais chato, monótono e tedioso do planeta terra. Nos primeiros dias, ainda pude suportar as ruas imaculadamente limpas, a ausência de mendigos e de cães abandonados e a total falta de violência policial (já que os bandidos se mudaram todos para os Estados Unidos). Mas não demorou para que baixasse em mim o "espírito brasileiro", aquela voluptuosa manemolência, pois trago em minh'alma 500 anos de degradação e porcaria. Andando pelas calçadas sem buracos, sentia um impulso irresistível de cuspir no chão, grafitar as paredes ou urinar em um poste (coisas que não faço desde o carnaval de 2005). Transformei-me em um completo anarquista, doido de vontade de subverter aquela nação sem tuberculose, barriga dágua e raquitismo. Roubei jornais, passei trotes telefônicos e até cheguei a pedir uma pizza em nome do vizinho, mas nada conseguiu saciar minha sede de desordem e de caos. Em desespero, cheguei até a tentar o suicídio, mas fui socorrido com a máxima presteza e submetido a um sistema de saúde ultramoderno e gratuito, com médicos que realmente haviam aprendido o seu ofício em universidades sérias, sem bolsas de governo ou cotas étnicas (confesso que, por pouco, não contive o meu desejo de pedir uma transferência para um hospital público do Rio de Janeiro ou do Nordeste). Restabelecido, apanhei um táxi que não me extorquiu e rumei para um aeroporto onde todos os vôos decolavam na hora, sem políticos e outras autoridades para furar a fila. Já dentro do avião, consegui um jornal brasileiro e comecei a devorar com avidez todas as novas barbaridades ditas pelo presidente Lula, todas as frases sem sentido da Dilma, todos os novos (e velhos) escândalos de corrupção do nosso governo, nossas chacinas, epidemias, fraudes e roubalheiras. Nesse momento, enxugando algumas lágrimas que brotavam do fundo do meu peito, compreendi o valor de ser um botocudo perebento do terceiro mundo, e desprezei com asco toda essa alta cultura, essa civilização organizada e perfeita que pretende tirar de nós o nosso único verdadeiro patrimônio: a nossa barbárie!