terça-feira, 2 de março de 2010

PLANO NACIONAL DOS DIREITOS PETISTAS


A socialização do saber

Como qualquer um pode ver, é mais fácil embelezar a Dilma Rousseff do que convencer um brasileiro médio a ler um livro. Boa parte do nosso povo tem uma boa razão para não gostar de ler: o fato de simplesmente não saber fazer isso! Saber o que está na manchete de um jornal ou saber identificar o número do ônibus são, para muitos de nossos compatriotas, os únicos exercícios possíveis na arte da leitura. Quanto aos poucos indivíduos que realmente sabem ler, quase todos eles não conseguem resistir a uma ou duas páginas sem pegar no sono ou sem pensar em outra distração mais fácil, na internet ou na televisão. As escolas, longe de estimular a leitura, transformam os livros em um fardo pesado, em um “castigo de casa” que pode ser legitimamente burlado com um DVD ou com uma versão mastigada da internet.

Sem ler, obviamente não se consegue um grande resultado na escrita, não se consegue encadear as idéias ou, pelo menos, expressar minimamente o que se pensa – o que pode ser visto por qualquer um que leia os comentários de leitores nos blogs da internet. A solução, quase sempre, é o “recorte e cole”, com a morte definitiva do pensamento pessoal, da leitura crítica. Vemos, assim, celebridades que não conseguem nem ao menos escrever as suas próprias “autobiografias” e políticos – quase todos – que têm que contratar redatores profissionais para elaborarem os seus discursos (quantas vezes não temos visto, nas propagandas eleitorais, candidatos que não conseguem nem ao menos decorar as “suas” próprias propostas de campanha?). Daí, uma triste constatação: as pessoas que detêm um verdadeiro conhecimento, que sabem ler e escrever e que têm condições de expressar as suas idéias (mesmo que não tenham idéias para expressar) estão em uma nítida superioridade com relação à ampla maioria da população.

Numa perspectiva socialista, este saber elitizante é uma aberração que deverá ser extirpada para o bem da coletividade. Assim, reconhecendo – numa abordagem bem realista – a impossibilidade de convencer o nosso povo a adquirir cultura (já que os exemplos mostram que ela em nada favorece a ascensão econômica e social dos indivíduos), optamos por suprimir as desigualdades pelo topo da pirâmide, abolindo aquilo que os burgueses chamam de “alta cultura” ou de erudição ou de “saber intelectual”. Assim, já que a maior parte da população não lê, decidimos suprimir os livros, para que nosso povo não seja submetido à humilhação imposta pelos intelectos superiores. Não havendo os livros, não haverá motivos para considerar os não-leitores ou os não-escritores como gente inferior na escala social. Desde a sua criação, o objeto-livro nunca deixou de ser uma ferramenta de poder das elites, que transmitiam através dele os seus conhecimentos privilegiados, os segredos para dominar “o resto” da humanidade.

Porém, chegaram os novos tempos! Temos que viver em um mundo onde a cultura e o conhecimento já não possam mais ser usados para oprimir o povo. É chegada a hora dessa grande revolução, pois nunca antes pudemos dispor de tão gritantes exemplos da inutilidade e da falência dos saberes eruditos e da “alta cultura”: além do presidente Lula – que se orgulha justamente da sua falta de escolaridade – dispomos hoje de toda uma plêiade de ministros, juízes e congressistas que mal conseguem ler os seus discursos escritos por outros, que mal conseguem pronunciar uma frase de quatro palavras sem cometer cinco erros de português. O novo acordo ortográfico, gerando todo tipo de confusão e de dúvida, foi mais um passo na direção do nosso objetivo final: a supressão completa de qualquer regra para a língua portuguesa (torpe herança colonial que só deveria nos envergonhar), que será – então – a mais livre e democrática forma de expressão da humanidade.

A eliminação dos livros proporcionará inúmeros benefícios de alcance transversal: a economia de papel (o que preservará a natureza e reduzirá a poluição e o efeito estufa que está destruindo a nossa camada de ozônio), a melhoria da saúde das crianças (que não terão mais que carregar mochilas pesadas), a maior disponibilidade de tempo para atividades sócio-comunitárias (com a supressão do tempo "egoísta" da leitura) e o aproveitamento em prol da comunidade de todos esses imensos espaços hoje desperdiçados com bibliotecas e livrarias.