sábado, 30 de janeiro de 2010

LEONARDO BOFF APOIA AS REFORMAS DE FREI BETTO

"Vejo o posicionamento de Frei Betto como algo muito coerente com os novos tempos, com uma religião que abandona o ranço dos dogmas, das liturgias e da hierarquia - coisas que entravam nossas atividades sociais e nossa entrada na modernidade. Afinal de contas, as lideranças sindicais - que representam os trabalhadores - fazem de tudo, menos trabalhar. Ao se transformar em líder estudantil, a primeira providência de um jovem - mesmo que tenha mais de 40 anos - é parar imediatamente de entrar na sala de aula, a não ser para ler algum manifesto ou convidar seus colegas menos "escolados" para alguma assembléia. Seria, portanto, injusto - e, até mesmo, absurdo - que as grandes figuras da Igreja ficassem por aí, no anonimato, fazendo batizados e rezando missas, enquanto existem tantas outras coisas bem mais interessantes para se fazer. Sempre tive uma clara certeza de que o lugar adequado para nós, celebridades da vida religiosa, era nas TVs, nos jornais, nas revistas, nas universidades, nos grandes encontros nacionais e internacionais e, até mesmo, nos palcos (como tão bem mostra o nosso grande padre Fábio Melo, que está bombando nas paradas de sucesso). Com isso, o que estamos fazendo é seguir o exemplo de Cristo: não vemos, em nenhum momento do Novo Testamento, o Messias entrar em uma igreja. Nosso salvador prefere ir para o mercado, fazer arruaça; prefere ir para as bodas de Caná, para ajudar seus vizinhos a encherem a cara; prefere deixar de lado os rabinos e aparecer na companhia de Maria Madalena (que era uma espécie de Valeska Popozuda de Jerusalém). Ele prefere, finalmente, ser o centro das atenções, pendurado lá no alto de uma cruz, a ter que ficar enfiado em algum templo obscuro, sem qualquer reconhecimento. Jesus Cristo é o caminho, e não podemos esquecer de que ele montou uma sociedade com o bispo Macedo para a compra da TV Record. Portanto, ser midiático é exercer na mais perfeita medida a missão apostólica. Fui forçado a sair da Igreja justamente pela falta de compreensão dos conservadores, que insistem em ignorar que a sociedade se modificou. Na visão desses fanáticos, um padre não pode ter mulheres, não pode sustentar um michê, não pode nem mesmo molestar umas criancinhas... não admira que muitos de meus colegas acabem se afogando no vinho da missa. Tal como Frei Betto, eu também acho que a Igreja deve se transformar em uma espécie de ONG, um "sindicato de fiéis". Deus tem que deixar de ser o nosso latifundiário e até mesmo o céu não pode estar imune à reforma agrária".