Cada povo tem a sua história e a sua essência, seu caráter único e inconfundível: nós, os brasileiros, temos a marca do fracasso, a sensação de que sempre morreremos na praia (e não apenas de câncer de pele ou de infecção intestinal). Em cada um de nós, o sorriso amarelo da frustração soma-se ao verde acinzentado das náuseas de ansiedade, ao azul da falta de fôlego e até ao branco total que sempre nos atinge no momento exato em que a nossa sorte parecia estar mudando – sempre graças à intervenção de alguma entidade sincrética que tem uma especial quedinha pelo nosso país. Se o povo brasileiro tem uma coisa que é só sua, é essa infinita capacidade de nunca desistir e de sempre persistir no fracasso, no erro, no ridículo e na pusilanimidade. Se tivemos que escolher apenas alguns poucos exemplos, é pela única virtude que nos salva: a crônica falta de memória que nos leva sempre a esquecer nossos erros para que possamos voltar, ingenuamente, a repeti-los com uma inocência infantil. Que os vencedores fiquem com os seus louros e se fartem com os frutos do seu sucesso. Quanto a nós, para não fugirmos de nossa natureza, temos que reconhecer que é bem mais fácil encontrar uma boa desculpa para a derrota inevitável.