Tal como o nosso descobrimento, nossa independência foi uma fraude, já que deixamos de ser governados por um príncipe português e passamos a ter um imperador português (que, não por coincidência, eram a mesma pessoa). Para completar a brincadeira, esta substituição de seis por meia dúzia nos custou bem caro: pagamos o pato e só levamos gato por lebre. Depois de uma luta árdua e sangrenta, conseguimos expulsar os portugueses, que se entrincheiraram nas quitandas e nas padarias, vingando cada gota de sangue derramado com a mesma quantidade de água em nosso leite e em nosso vinho. Para não esquecermos dos nossos valores maiores, o século XIX foi marcado por uma infinidade de revoltas e rebeliões, com as quais o povo e a burguesia satisfaziam seu desejo de derrota e humilhação, de sangue e baderna. Mais tarde, na famosa Guerra do Paraguai, o Brasil inaugurou uma nova modalidade de conflito militar, no qual ambos os lados saíam perdedores. Governados por um imperador reconhecido unanimemente como um grande sábio - e que, por isso mesmo, tinha horror do país e vivia peregrinando pela Europa - marchamos rumo ao progresso prometido pelo desenvolvimento tecnológico e pelas reformas sociais da segunda metade do século. Porém, nossa marcha era bem lenta, talvez porque andássemos descalços ou porque o caminho que escolhemos não estivesse muito bem pavimentado.